Entrevista: HÉLIO TAQUES

Cuiabano, perfeccionista e apaixonado por teatro! Assim definimos o ator, escritor e diretor teatral Hélio Taques, um dos nomes do teatro cuiabano e um dos representantes de uma das gerações mais produtivas do teatro no estado. Nesta entrevista concedida ao blogue PALCO TEATRAL, ele nos fala dos projetos futuros e da experiência adquirida durante seus 13 anos de carreira. Helinho, como costuma ser carinhosamente tratado por amigos, integrou por 07 anos a Cia Teatro Mosaico, e foi um dos 32 artistas mato-grossenses escolhidos dentre 80 inscritos pela atriz Fernanda Montenegro para participar do curso “Oficina de Leitura Dramática” (2004), projeto ministrado pela mesma e que rodou todo o Brasil. Abaixo a entrevista;



(Foto: Hélio Taques no espetáculo "A Caravana da Ilusão")

PalcoTeatral: COMO VOCÊ DESCOBRIU O AMOR PELA REPRESENTAÇÃO E PELAS ARTES, UMA VEZ QUE ALÉM DE ATOR É TAMBÉM ESCRITOR, PROFESSOR E DIRETOR DE TEATRO? FALE UM POUCO SOBRE O INÍCIO DE SUA CARREIRA.
Comecei minha carreira num curso profissionalizante de teatro livre, na antiga Casa Cuiabana, com o diretor Tony Bezerra. Lá pude aprender metade do que sei hoje, pois o Tony sempre foi um excelente diretor. Foi lá também que comecei a trabalhar profissionalmente, e com apenas onze anos de idade já estava participando de um festival internacional no Paraná. Lembro-me que fui indicado ao prêmio de melhor ator, junto com dois atores argentinos, que faziam o mesmo espetáculo há pelo menos, dez anos. Foi uma fase muito boa. A Cia Destinos da Terra, dirigida pelo Tony, fez muito sucesso em Mato Grosso e fora do estado também, foi a primeira Companhia teatral da qual fiz parte.

PalcoTeatral: VOCÊ TRABALHA COM TEATRO Á MUITOS ANOS. O QUE O TEMPO LHE ENSINOU SOBRE O PALCO E SOBRE A ARTE DE INTERPRETAR?
A formação que tenho hoje, devo ao teatro, as melhores oportunidades que tive na vida, foi graças a essa arte maravilhosa.
O tempo lhe ensina a ser mais seletivo, a escolher melhor as pessoas com as quais você quer trabalhar, para lidar melhor com os dilemas da profissão, e óbvio, o tempo te deixa mais responsável e preocupado em ofertar um espetáculo de qualidade, além de lhe dar mais segurança para definir os novos rumos que quer tomar. Aprende também, que o importante é o fazer teatral!

PalcoTeatral: INTEGROU POR MUITOS ANOS A CIA TEATRO MOSAICO, COM ELA VOCÊ PERCORREU TODO O BRASIL, SE APRESENTANDO EM DIVERSOS FESTIVAIS E DIVULGANDO O TEATRO MATO-GROSSENSE. QUAIS FORAM AS EXPERIÊNCIAS QUE MAIS LHE MARCARAM NESTES ANOS?
A Cia Teatro Mosaico também foi um marco na minha vida, pois a estética era diferente da qual eu trabalhava até então. O Sandro Lucose sempre foi um empreendedor do teatro, graças a ele, percorremos os rincões do Brasil; de Cratos e Juazeiro do Norte no Ceará, á 'Cidade Maravilhosa' (RJ), passamos por vários estados, muitas cidades nunca tinham recebido um espetáculo de teatro, e isso foi muito bacana, poder levar arte a quem não tinha acesso [...] O Mosaico é a primeira Companhia de Mato Grosso, a ter a honra de ser elogiado pela crítica teatral Bárbara Heliodora, publicada no jornal O Globo. Isso foi muito importante para gente e para o teatro do estado.

PalcoTeatral: AGORA GOSTARIA DE UMA ANÁLISE TÉCNICA; QUERIA SABER O QUE VOCÊ ACHA DO INCENTIVO AO TEATRO AQUI NO ESTADO DE MATO GROSSO? ACHA QUE TEMOS UMA POLITICA DE INCENTIVO, E ESTRUTURAS DE APOIO QUE VALORIZAM O PROFISSIONAL ATOR? OU AINDA SOMOS VITIMAS DO DESCASO POR PARTE DA POLITICA CULTURAL?
Falar de cultura num país em que metade da população vive com um salário mínimo de R$ 540,00 é complicado... A situação da Cultura, não foge a realidade da Saúde, da Educação, da Infra-estrutura. Tudo está um caos! Precisaríamos ser mais brasileiros e sairmos às ruas para reivindicar melhores condições de tudo. De que adianta ser brasileiro e não desistir nunca? (Risos) É fácil não desistir, pois ficamos em casa assistindo ao BBB, desse jeito ninguém desiste mesmo! (Risos)


(Foto: Alguns momentos da carreira do ator. Em sentido horário; 1 - O ator na oficina com Fernanda Montenegro. 2 - Com a Musicista Suzy Belai, em um ensaio do espetáculo "Argumas de Patativa". 3 - Em um encontro com o ator Matheus Nachtergaele)


PalcoTeatral: EM MATO GROSSO, APESAR DA EXISTÊNCIA DE DIVERSOS GRUPOS TEATRAIS, TEMOS APENAS UMA OPÇÃO DE CURSO SUPERIOR EM ARTES CÊNICAS, E MESMO ESTA EM UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR. ACHA QUE A AUSÊNCIA DO CURSO NA UFMT (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO), TEM INFLUENCIADO A FALTA DE PROFISSIONALIZAÇÃO E CONSEQUENTEMENTE INIBIDO O CRESCIMENTO NO ESTADO DE UM TEATRO FORTE, COMO O EXISTENTE EM CURITIBA, RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO, HOJE PÓLOS DO TEATRO NO PAÍS?
Um curso de Artes Cênicas na UFMT seria ótimo, mas de que adianta formar o povo e não ter campo de trabalho para todo mundo? Talvez seria mais frustrante... (Enfático) A realidade desses polos são essas. Tem muita gente querendo emprego de ator e de atriz nessas capitais que você citou... Tenho que concordar com a Fernanda Montenegro quando ela me disse em um dos dias da oficina que fiz com ela; “O interessante é fincar raízes em suas terras, e fazer história por aqui, por lá, tudo já é demais”.

PalcoTeatral: FALANDO NA ATRIZ FERNANDA MONTENEGRO E NESTA OFICINA, QUE ALIÁS FOI DIRECIONADA EXCLUSIVAMENTE Á POUCOS ARTISTAS CUIABANOS, GOSTARIA DE SABER COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE SER ESCOLHIDO ENTRE 80 INSCRITOS PARA PARTICIPAR DESSE PROJETO? Foi ótimo! Uma experiência incrível. Na época tive a honra de me apresentar com o Mosaico para ela, apresentamos o espetáculo “O auto da estrela guia”, e realmente, ela sabe muito, não é a toa que ela é considerada a dama do teatro brasileiro.

PalcoTeatral: OS CUIABANOS POR MUITOS ANOS CARREGARAM O ESTERIÓTIPO DE SEREM PESSOAS NÃO MUITO ACOSTUMADAS Á IREM AO TEATRO, ESTE ESTERIÓTIPO, ALIÁS PERDURA ATÉ OS DIAS DE HOJE. SENTE QUE ESSA CONDIÇÃO VEM MUDANDO?
Isso não é particularidade só dos cuiabanos, infelizmente é uma realidade brasileira.

PalcoTeatral: O QUE ACHA DOS NOVOS GRUPOS TEATRAIS, COM JOVENS ATORES, QUE TEM MANTIDO, AO LADOS DOS GRUPOS JÁ EXISTENTES O TEATRO NO NOSSO ESTADO?
Estamos passando por mudanças trágicas, há uma articulação política grande, mas há pouca produção teatral. As grandes Cias, estão em um momento crítico, metade em crise. Tenho visto pouca coisa boa no estado, e poucos atores bons. Infelizmente...


(Fotos: Hélio Taques em cena)


PalcoTeatral: ASSISTI AO VÍDEO "A TORMENTA DE QUIQUINHA", CONTO ESCRITO E E INTERPRETADO POR VOCÊ, ESSE É O PRIMEIRO VÍDEO POSTADO EM SUA PÁGINA NO YOUTUBE. PODEMOS ESPERAR PRÓXIMOS?
(Gargalhada) Isso foi uma brincadeira, nada profissional! Coisa de amador mesmo! (Risos)

PalcoTeatral: (RISOS) CERTO. TAMBÉM VI AS FOTOS DA PEÇA "O AUTO DA COMPADECIDA", ENCENADA PELOS SEUS ALUNOS DE TEATRO DO COLÉGIO BRASILIS, E ACHEI AS FOTOS LINDISSÍMAS! O QUE MAIS LHE ENCANTA AO DESENVOLVER UM TRABALHO COMO ESTE COM CRIANÇAS QUE ESTÃO JUSTAMENTE TENDO UM PRIMEIRO CONTATO COM O TEATRO?
Eu fico encantado, emocionado. Sei que fiquei marcado na vida deles e mais do que isso, o teatro provocou catarse no modo como eles olham o mundo.

PalcoTeatral: ACHO QUE SOU PROVA DISSO! (RISOS)
Verdade. (Risos)

PalcoTeatral: O QUE DIRIA Á ALGUÉM QUE QUER TENTAR UMA CARREIRA ARTÍSTICA? POR QUÊ?
Que faça, que siga e que se dedique, mas que antes pense muito, pois o teatro é viciante!

PalcoTeatral: GOSTARIA DE LHE AGRADECER A BOA VONTADE, E LHE PEDIR QUE DEIXE UM RECADO PARA OS LEITORES DO BLOGUE PALCO TEATRAL.
Vejam o Teatro!

Em Junho, em parceira com a também atriz Mazé Oliveira, que integrou a Cia Teatro Fúria (MT) por muitos anos, Hélio Taques apresenta no teatro do Sesc Arsenal (MT) uma leitura dramatizada para o projeto “Leitura Dramatizada”.
Em 2008, também para o Sesc, mas desta vez para o projeto "Poesias, Versos e Cordas", acompanhado da musicista Suzy Belai, o artista apresentou o espetáculo “Argumas de Patativa”, que trazia para o palco a literatura de cordel do poeta e cantador cearense Patativa do Assaré. Além do espetáculo em Junho, Helinho prepara para Agosto uma peça infantil, mas não faz muito alarde. Então é esperar e conferir!

Um comentário:

  1. QUAL É O LUGAR DO TEATRO?
    Partimos de indagações para questionar o instante presente e propor não especificamente alternativas, mais sim a possibilidade de refletir um pouco acerca daquilo que designamos como teatro. Que o profissional de teatro pense acima de tudo no espectador, pois é a platéia que ele serve, Captar as demandas do presente, eis a questão.
    É preciso reconhecer a situação existente e reivindicar para o teatro aquilo que outros veículos de comunicação não pode oferecer. O estrito realismo comtemporâneo, por exemplo, é mais bem servido pelo cinema; mas nem este nem a televisão são capazes de realizar, tão satisfatoriamente quanto o palco, uma farsa de estilo; ou a economia dramática que o teatro, por sua própria convenção, pode criar, abrindo mão da ambientação fotográfica. Parece-nos que a expressão daquilo que é essencialmente teatral insere as artes cênicas em um contexto de postura crítica relevantes para a sociedade.
    De Tony Bezerra para meu grande ator Helio Taques, agradeço sinceramente do fundo de meu coração eu fui e serei eternamente o 1° para você é isso ai.

    ResponderExcluir