"DONA DOIDA - Adélia Prado"



(Vídeo: "DONA DOIDA" - Interpretação Rose Clair Brasil - CIDAN 2007)


"DONA DOIDA"

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Adélia Prado



O texto acima foi extraído do livro "POESIA REUNIDA", Editora Siciliano - 1991, São Paulo, página 108. Se você gostou do texto e quer saber mais sobre Adélia Prado clique AQUI e acesse a Biografia dela do site RELEITURAS. Já a interprete do texto é a atriz e cantora Rose Clair Brasil, para saber mais sobre seus trabalhos acesse seu blogue, clique AQUI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário