(Foto: Divulgação - Filme "ROMANCE", direção: Guel Arraes, com Wagner Moura e Letícia Sabatella) (Fonte)
As cenas de sexo e nudez gratuitas tomaram conta dos palcos e das telas do cinema, sob a alegação de ser artística, a nudez vem sendo tratada como veículo de desconstrução e crítica, para o ator/atriz são poucas as propostas sem esta, como condição, comercializa-se o sexo. Aceitar ficar nu em cena, mais que 'provar' sua entrega á arte é condição obrigatória para qualquer ator/atriz que queira ganhar bons papéis, e isso é fato, a "pornografia disfarçada" instalou-se no entretenimento e nos meios de comunicação e traça junto deste uma linha de correlação muito tênue.
Não adimiro a nudez em cena, pelo contrário, repudio totalmente a banalização do sexo, isso porque considero que a nudez em cena não é do personagem e sim do ator/atriz que está alí (citação), considero também que essa é muito mais uma necessidade de diretores movidos por outros interesses do que necessidade da arte. Na minha concepção o teatro aceita outras formas de se desenvolver uma cena de sexo, e que sobrevive sem nudez, ele é amplo e essa amplitude lhe dá possibilidades de assim o fazer, estar nu em cena, pode ser uma experiência extremamente evasiva e traumatizante para o ator/atriz (e para a platéia), por mais que exista qualquer trabalho psicológico, a nudez em cena trás para o ator um desconforto emocional. Estar nu no palco, estar nu no palco e "estar protegido pelo personagem" é a mesma coisa, quando se despe um personagem o diretor direciona totalmente o foco para a nudez, pornografia disfarçada. A beleza de qualquer texto, a promoção do espetáculo, a critica e elogios se voltam para o nú, (dito artístico), e sua interelação com o texto...
Hoje dificilmente estamos alheios á isso, nudez e cenas de sexo estão inclusas em espetáculos de comédia, em programações televisivas, em filmes, cujo objetivo está muito distante de se fazer arte, ou representar, a comercialização do sexo e da sexualidade nas produções audiovisuais tem se tornado normalidade, diante disso atores e atrizes passam diariamente á ter que conviver com esta nova difusão do "fazer arte".
Pesquisando sobre o assunto li o seguinte no blogue do ator José de Abreu:
"Para discussão. Ainda não tenho opinião formada, mas realmente minhas colegas atrizes não gostam mesmo de fazer cenas de sexo. Ao menos as mais talentosas... Mas acho que a uma certa imprensa e alguns meios de comunicação, especialmente a publicidade (de cervejas então!), usa sim o corpo feminino e a nudez para vender mais. E que pinta um clima de te(n)são e machismo no estúdio nessas horas de gravação, ah, isso pinta mesmo! Afinal a maioria das equipes é composta de machos, ou pelo menos seres humanos do sexo masculino... Sempre vi muito respeito por parte de diretores mas equipe tem de tudo. Por mais que peçam para sair, sempre ficam os indispensáveis para o trabalho e sempre uns penetras conseguem ficar..." (Fonte)
Para o ator ter que lidar com essa invasão não é muito fácil, torno á repetir, por mais que haja um trabalho para "destruir" essa frustração emocional. Esse interesse á fim de desnudar o ator por vontades próprias é muito comum, veja abaixo um relato encontrado no "Wikipedia" a respeito da famosa cena de sodomia protagonizada por Maria Schnneider e Marlon Brando, sob a direção de Bernando Bertolucci, no inquestionavelmente artístico filme "O Último Tango em Paris." Vejamos o que os próprios envolvidos têm a dizer:
During the publicity for the film's release, Bertolucci said that Maria Schneider developed an "Oedipal fixation with Brando." Schneider herself said that Brando sent her flowers after they first met, and "from then on he was like a daddy". In a contemporaneous interview, Schneider denied this, saying, "Brando tried to be very paternalistic with me, but it really wasn't any father-daughter relationship. Years later, however, Schneider recounted feelings of sexual humiliation:
"I should have called my agent or had my lawyer come to the set because you can't force someone to do something that isn't in the script, but at the time, I didn't know that. Marlon said to me: 'Maria, don't worry, it's just a movie,' but during the scene, even though what Marlon was doing wasn't real, I was crying real tears. I felt humiliated and to be honest, I felt a littl raped, both by Marlon and by Bertolucci. After the scene, Marlon didn't console me or apologise. Thankfully, there was just one take."
Schneider subsequently stated that making the film was her life's only regret, that it "ruined her life," and that she considers Bertolucci a "gangster and a pimp." Much like Schneider, Brando "felt raped and humiliated" by the film and told Bertolucci, "I was completely and utterly violated by you. I will never make another film like that."
Bertolucci also shot a scene which shows Brando's genitals, but later explained, "I had so identified myself with Brando that I cut it out of shame for myself. To show him naked would have been like showing me naked." (1) (fonte)
(Vídeo NÃO indicado para menores de 18 anos, contém imagens de nudez feminina, e com apelo erótico)
(Vídeo: O último Tango em Paris - Last Tango in Paris (1972) (Fonte)
Tradução:
Durante o trabalho de divulgação para o lançamento do filme, Bertolucci disse que Maria Schneider havia desenvolvido uma "fixação Edipiana em Brando". A própria Schneider disse que Brando lhe enviou flores quando eles se conhecerem, e que desde então ele "era como se fosse um pai". Em uma entrevista dada na época, Schneider negou a afirmação dizendo: "Brando tentou assumir uma postura bastante paternalista, mas na verdade nossa relação não era como se fossemos pai e filha". Alguns anos depois, no entanto, Schneider falou sobre um sentimento de humilhação sexual:
"Eu deveria ter chamado meu agente ou ter pedido que meu advogado viesse ao set, porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no script, mas naquele tempo eu não sabia disso. Marlon me disse: 'Maria, não se preocupe, isso é só um filme', mas durante a cena, ainda que o que Marlon estivesse fazendo não fosse real, eu estava chorando lágrimas reais. Eu me senti humilhada, e honestamente, me senti um tanto estuprada, tanto por Marlon quanto por Bertolucci. Depois da cena, Marlon não me consolou nem se desculpou. Por sorte foi um take único".
Schneider disse posteriormente que ter feito o filme era o único arrependimento de sua vida, e que o mesmo "arruinou minha vida". Disse ainda que considerava Bertolucci "mafioso e cafetão". Assim como Schneider, Brando sentiu-se "estuprado e humilhado" pelo filme de Bertolucci. "Fui completa e profundamente violentado por você. Nunca mais farei um filme como esse".
Bertolucci filmou ainda uma versão da cena mostrando o órgão sexual de Brando, porém mais tarde esclareceu: "Eu me identifiquei com Brando a tal ponto que cortei a cena com vergonha de mim mesmo. Mostrá-lo nu seria mostrar a mim mesmo nu" (Fonte)
Em 08 de Outubro de 2008, durante a primeira exibição do filme "Todo mundo tem problemas sexuais" o ator Pedro Cardoso leu um texto sobre o assunto e recebeu além do apoio de alguns atores, muita criticas, li todo o conteúdo dos textos do ator, um dos únicos á falar sobre o tema, achei muito bom os argumentos do Pedro Cardoso, tanto é que nessa matéria defendo apenas o meu ponto de vista sobre o tema, não por acaso igual ao do ator. Abaixo o texto na íntegra, aconselho a ler todo o conteúdo.
(Foto: Photo Rio News - Ator Pedro Cardoso)
"Quando vemos alguém nu vemos sempre a pessoa que está nua. O personagem é justamente algo que o ator veste. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem, e resta ele mesmo, apenas ele e sua nudez pessoal e intransferível. Diante da irredutível realidade da nudez de seu corpo, o ator não consegue produzir a ilusão do personagem" - Pedro Cardoso
"Texto do Odeon"
Esse é o texto que eu li na primeira exibição do filme "Todo mundo tem problemas sexuais" no cinema Odeon no dia 08 de outubro de 2008.
Ah, eu sou o Pedro Cardoso. Espero que ele ajude a todos nós.
Senhoras e senhores, nesta primeira exibição pública de "Todo Mundo Têm Problemas Sexuais", eu gostaria de, na qualidade de ator e produtor do filme, compartilhar com vocês algumas preocupações a respeito da pornografia que percebo presente na quase totalidade da produção audiovisual mundial, e na brasileira especialmente; e como esta invasão está aviltando a profissão de ator e de atriz; e gostaria, de situar o filme no contexto desta questão.
A meu ver, as empresas que exploram a comunicação em massa (e as que dela fazem uso para divulgar seus produtos) apossaram-se de uma certa liberdade de costumes, obtida por parte da população nos anos 60 e 70, e fazem hoje um uso pervertido dessa liberdade.
Uma maior naturalidade quanto a nudez, que àquela época, fora uma conquista contra os excessos da repressão a vida sexual de então, tornou-se agora, na mão dessas empresas, apenas um modo de atrair público. Com a conivência de escritores e diretores (alguns deles, em algum momento, verdadeiros artistas; outros, nunca!) temos visto cenas de nudez, ou semi-nudez, ou roupas sensuais, ou diálogos maliciosos, ou beijos intermináveis, em quase todos os minutos da programaçãos das televisões e nos filmes para cinema, sem falar na publicidade. A constância com que essas cenas aparecem tem colocado em permanente exposição a nudez dos atores, especialmente das mulheres; é sobre as atrizes que a opressão da pornografia é exercida com maior violência, uma vez que ela atende, na imensa maioria das vezes, a um anseio sexual do homem. É raro o convite de trabalho, seja filme ou novela ou programa de humor, que não inclua cenas desse tipo para o elenco feminino.
No filme que assistiremos em breve, apesar do nome que tem, não há cenas de nudez. Embora o drama de todas as histórias aconteça nas imediações de atos sexuais, este filme não tem cenas de nudez. Esta foi uma sugestão minha que foi muito bem recebida pelo diretor, Domingos Oliveira, e por ele endossada. A minha tese é de que a nudez impede a comédia, e mesmo o próprio ato de representar. Quando estou nu sou sempre eu a estar nu, e nunca o personagem. Quando vemos alguém nu vemos sempre a pessoa que está nua. O personagem é justamente algo que o ator veste. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem, e resta ele mesmo, apenas ele e sua nudez pessoal e intransferível. Diante da irredutível realidade da nudez de seu corpo, o ator não consegue produzir a ilusão do personagem. O ator ou atriz que for representar um personagem que estiver nu, terá que vestir um figurino de nu (seja lá o que isto quer dizer!).
Fiz algumas poucas cenas de nudez muito parcial e eu me senti sempre muito mal, porque, despido, devia representar ainda, embora já sem personagem nenhum. Este absurdo causa grande desconforto ao ator ou a atriz porque nos obriga a mentir, e mentir é o ato mais distante possível da arte de representar.
Neste filme de hoje a vida íntima dos personagem é o ambiente onde seus dramas acontecem, apenas isso. Não há intenção de provocar excitação sexual, como há na pornografia. Acredito que a dramaturgia, que é arte de contar histórias, busca oferecer ao público um pensamento, e não uma sensação. Esta pertence a vida. É na vida que sentimos frio e fome; na arte, falamos do frio e da fome, se possível com alguma inspiração. A apresentação da nudez, busca produzir uma sensação erótica e não sugerir um pensamento sobre o erotismo. Neste filme os atores estão vestidos para que os personagens possam estar desnudos. O estímulo ao anseio sexual está esquecido para que o pensamento possa ser provocado.
Fazer o filme assim é uma decisão política para mim. A pornografia está tão dissimulada em nossa cultura, que já não a reconhecemos como tal. Hoje, qualquer diretor ou autor de novela ou programa de televisão (medíocre ou não, mas medíocre também!), ou qualquer cineasta de primeiro filme, se acha no direito de determinar que uma atriz deve ficar pelada em tal cena, ou sumariamente vestida (já vem escrito no texto!), ou levando um malho, ou beijando calorosamente dez minutos um ator que ela acabou de conhecer (e já aconteceu de ser apresentado um prostituto para fazer uma cena de beijo com uma colega nossa). E depois, é frequente que esses cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos, em sessões privê, as cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz. (E quanto mais séria e profissional for a colega, maior terá sido o feito de tal cineasta de merda.)
E quando hesitamos diante de um diretor que nos pede a nudez, ele fica bravo, faz má-criação, como uma criança mimada, porque se considera no direito a ela. E se a atriz for jovem, é bem capaz que ainda ouça uns desaforos.
Até quando, nós atores, ficaremos atendendo ao voyeurismo e a desfunção sexual de diretores e roteiristas, que instigados pelos apelos do mercado, ou por si mesmos, nos impingem estas cenas macabras? Até quando, nós atores, e sobretudo, as atrizes, serão constrangidas a ficarem nuas em estúdios ou praias onde homens em profusão se aglomeram para dar uma olhadinha? Ou, pior: quando dissimulam o seu apetite sexual num respeito cerimonioso; respeito esse que é pura tática para não espantar a presa, a oferenda que vai ser imolada no altar do tesão alheio dos impotentes!
Um diretor não deveria pedir a uma atriz que faça algo que ele não pediria a uma filha sua. Assim como um homem não deve fazer a uma mulher algo que ele não quer que seja feito a uma filha sua. Eu não conheço outra dignidade além dessa.
Se essa gente quer nudez, que fiquem nus eles mesmos, e então conhecerão o uso pornográfico de suas próprias imagens e saberão onde dói! Além do que, seria uma doce vingança para nós conhecer a nudez dessas belíssimas pessoas, geralmente fora do peso!
Quem quer a nudez do outro, é porque tem problemas com a sua própria.
Eu ambiciono o dia em que os atores e as atrizes saibam que podem e devem dizer "não" a cenas onde não se sintam confortáveis. O dia em que saibamos que não temos obrigação de tirar a roupa, que esta não é uma exigência do ofício de ator e sim da indústria pornográfica. O dia em que não nos deixaremos convencer por patéticos argumentos do tipo: "é fundamental para a história", "a luz vai ser linda", "você vai estar protegida", "é só de lado", "a gente vai negociar tudo", "se você não gostar, depois eu tiro na edição", e o pior argumento de todos, "vai ser de bom gosto". E a conclusão de sempre "confie em mim". E há também um argumento criminoso: "O programa é popular. Tem que ter calcinha e sutiã." Como se a gente brasileira fosse assim medíocre.
Claro que somos imperfeitos, pornografia talvez sempre haverá. Mas que ela não seja dominante e absoluta. E, principalmente, que ela não seja irreconhecível, disfarçada de obra dramatúrgica, de entretenimento inocente. Isto é uma perversão de consequências trágicas porque rouba à arte o seu lugar. E a arte, mesmo quando seja entretenimento inocente, é fundamental para a nossa saúde coletiva. E se a pornografia também o for, que ela o seja, mas como pornografia, e não querendo se passar pela nossa vida de todo dia, no ar na novela das sete, ou mesmo das seis, como se aquelas situações fossem a coisa mais normal do mundo. Criam-se cenas de estupro, de banho, de exibicionismo, de adultério, ambientadas em boates, prostíbulos, etc, tudo apenas para proporcionar cenas de nudez.
A quem diga que a nudez destas cenas é fundamental para a história, eu sugiro que assista a pelo menos 2 filmes de François Truffaut, "Le Dernier Métro" e "La Femme à Coté" e aprendam alguma coisa sobre a narrativa da intimidade de personagens sem haver exposição da intimidade dos atores.
Um bom ator pode surgir em qualquer lugar, na escola, na rua ou mesmo no deserto hipócrita de um reality show. O fundamental aqui é fazer uma distinção, não quanto ao caráter de cada pessoa individualmente, mas quanto a natureza de cada coisa. O que é pornografia é pornografia, o que é arte é arte. Que os pornógrafos sejam os pornógrafos, e que os atores e atrizes sejam os atores e as atrizes. Hoje está tudo confuso e sendo tomado pelo mesmo. E nós, atores, que deveríamos estar servindo a dramaturgia de uma história, temos sido, constantemente, o veículo da pornografia, com maior ou menor consciência do que estamos fazendo.
Mas é bom lembrar que nunca é o ator que escreve para si mesmo a cena em que ele ficará nu. Nunca é uma escolha do ator. É sempre a escolha de um roterista e de um diretor e, certamente, do produtor.
Eu ambiciono o dia em que nós não teremos medo do You Tube ou das sessões nostalgia dos canais brasil da vida, e suas retrospectivas do nosso cinema; o dia em que não teremos medo de os nossos filhos terem que responder perguntas contrangedoras a colegas na escola. Não é necessário ser assim. Os filhos de grandes atrizes, de um passado ainda muito recente, não passaram por esse constrangimento. Não há porque nós aceitarmos tamanho aviltamento. Saibamos dizer "não"! Nada acontecerá.
Claro que tudo isso nos é vendido como algo inofensivo, apenas uma crônica dos costumes do nosso tempo. Mas esse é o grande álibi para a disseminação da pornografia através do nosso trabalho. Há muito tempo estamos passando por esse contrangimento e fingimos que não. Temos mil desculpas esfarrapadas para nos enganar. Mas a verdade é que temos medo de ficar sem emprego. A pornografia é uma mercadoria muito fácil de vender, mas eu acredito que o público, por fim, a rejeita e se sente desrespeitado. Eu escrevi para televisão brasileira, em companhia de outros colegas, e para o teatro, obras que não tinham pornografia e que fizeram sucesso. Participo há oito anos da Grande Família, onde, se alguma pornografia houver, é muito pouca. Digo se alguma houver, porque a pornografia tem tantos disfarces que nenhum de nós está livre de todo; então, faço eu mesmo a ressalva.
Onde há pornografia, não há liberdade. Há alguém ganhando dinheiro e alguém sofrendo para produzir o dinheiro que este outro está ganhando. Quem se vê submetido a cena pornográfica, sempre sofre, mesmo apesar de seus possíveis compromentimentos subjetivos a tal submissão. O comprometimento eventual de alguns de nós, não legitima o ato agressivo de quem propõe a pornografia.
A quem se afobe em me acusar de exagerado, eu só peço que assista aos filmes recentes e a televisão. Está tudo lá. É só ter liberdade para ver.
A quem se afobe em me acusar de moralista, peço antes que procure conheçer o meu trabalho em teatro e que assista ao filme desta noite. Nele, assim como algumas vezes no teatro, tratei, junto com meus colegas, de assuntos bem distantes da uma moralidade puritana. Quem for me acusar, tente primeiro perceber a diferença entre a liberdade para tratar de qualquer assunto e a intenção de usar qualquer assunto para difundir pornografia usando a liberdade de costumes para disfarçá-la de obra dramatúrgica.
Para que não digam que eu sou contra a nudez em si, dedico este texto a atriz Clarisse Niskier, que faz de sua nudez em "A Alma Imoral" um excelente instrumento para a narrativa do seu espetáculo e não um ato pornográfico. Na televisão não há cena de nudez que eu me lembre de ter considerado justificada, mas no cinema há pelo menos uma: Leila Diniz vestindo a nudez de sua personagem no filme "Todas as Mulheres do Mundo" (Veja vídeo abaixo), enquanto o personagem de Paulo José diz um belíssimo poema de Domingos Oliveira.
E para que não digam que estou assim trasntornado com este assunto porque agora estou namorando uma atriz, digo logo eu! De fato, nos dói mais a dor que dói em nós mesmos. Mas saibam que estas idéias, incômodos e preocupações já nos ocupavam, tanto a mim quanto a ela, muito antes do nosso encontro. Agora, ver a mulher que eu amo ter que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia reinante, tornou este assunto a primeira ordem do meu dia. Se antes era apenas por responsabilidade profissional que eu me opunha a pornografia, agora é também por amor. Se alguém conhecer um motivo melhor do que este para lutar por uma causa, me diga, porque eu não conheço. E ainda afirmo: o meu afeto não me nubla o discernimento. Ao contrário, acredito que ele me deixe mais lúcido porque mais determinado.
E se ainda alguém quiser me acusar de mais alguma coisa, acho que dificilmente serão atores e muito menos atrizes. As acusações virão certamente daqueles que sempre permanecem vestidos nos estúdios de televisão e nos sets de filmagem ou nem saem das salas de reuniões.
Aqui nesse filme também não houve amestradores de ator. Esse assunto parece nada ter a ver com a pornografia, mas tem sim. O haver agora no mercado esses amestradores de atores faz parte da desautorização do ator como autor do seu próprio trabalho. Quer dizer que nem o seu próprio trabalho é o ator que faz?! Há alguém que o faz fazer como deve ser feito. Isso acontece, na minha opinião, porque os cineastas confundem sua própria perplexidade diante da dramaturgia (que, por vezes, eles desconhecem) com uma suposta incompetência do ator, e resolvem o problema chamando um amestrador de ator. (Melhor fariam se estudassem teatro.) É nocivo para nós. Um ator desautorizado na autoria de seu próprio trabalho irá aceitar, com muito mais subserviência, a pornografia que lhe será exigida logo mais a frente. O que está escondido sob esta prática é a desautorização do ator como líder da arte de representar e senhor do seu ofício. Lembremos-nos de que só há realidade fílmica ou televisiva, e certamente teatral, se um ator a faz existir! Sem o ator não há nada. Este é um poder que podem nos impedir de exercer, mas não nos podem tirar.
Espero que o filme que vamos assistir explique os meus sentimentos e idéias a repeito desse assunto melhor do que estas minhas palavras.
Vamos ao filme." (Fonte)
(Vídeo: Todas as Mulheres do Mundo - Com Paulo José e Leila Diniz, Direção: Domingos de Oliveira. [Filme citado pelo ator Pedro Cardoso, no texto lido no Cinema Odeon, em 08/10/2008])
Espero ter acrescentado alguma coisa á vocês, somos todos artistas e estamos abertos á discussão, nascemos criticos por natureza, não sou a melhor pessoa para falar sobre o tema, aqui deixo a impressão que tive sobre nudez, em minha pouca experiência com teatro. Concordo com a reflexão e se há quem descorda, essas são as mais interessadas em ver outra coisa, além arte. Essas verdades são vivências do palco e esconder isso ou não falar disso pode ser um preço que muitos irão pagar, não digo que a nudez é proibida, o que é proibido é a banalização da nudez, a nudez gratuíta, comercial. Abraços á todos os colegas que pisam no palco por amor á arte, e que se rendem apenas á ela. Sérgio Salles, PALCO TEATRAL.
Confira a entrevista de Pedro Cardoso ao jornal O GLOBO, clique AQUI.
Leia mais sobre o tema, acesse o blog do ator Pedro Cardoso, clique AQUI. Observações sobre o assunto, achei interessante, clique AQUI.
Concordo com tudo que você disse. Seus argumentos são sólidos e fundamentados.
ResponderExcluirAlém de que, você entende do que está falando e pesquisou sobre.
Penso que a Arte não depende da nudez. Muitos produtores fazem isso, não pensando na Arte "Cinematografia", mas sim no retorno que ela pode render.
E como estamos vivendo, mais que nunca, em uma era mesquinha, onde a maioria da população já perdeu a essência do que é princípios morais, o apelo desses filmes vendo sendo o mau uso do corpo, tanto feminino, quanto masculino.
Eu não sei se tem como isso acabar, ou não. Mas creio que há outros meios de usar a Arte, pra mostrar um aspecto sexual das coisas, sem precisar usar cenas como as relatadas por você e que acaba constrangendo tanto os atores, quanto a platéia, mesmo que seja pouca parte dela.
Enfim, Arte é Arte e não cenas de sexo.
Obrigado pela visita Thi Jr, infelizmente essa é uma realidade e deixar de falar dela ainda tem sido uma saída dolorosa para alguns atores. A nudez e exploração do corpo mais do que nunca tem sido o carro forte de muitas produções, isso em todos os ramos do entretenimento... Feridas do capitalismo, não é?
ResponderExcluirVolte sempre, o PALCO TEATRAL estará sempre de cortinas abertas para você!
Abraços,
PALCO TEATRAL, Sérgio Salles.